quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Uma virada de página

Eduardo Chacur*

Não foi o destino que escreveu a última página do Monitor Campista, que há dias deixou de circular, fazendo Campos perder uma de suas principais referências em termos de imprensa e cultura, pois deixamos de ter o terceiro jornal mais antigo do país e o primeiro da América Latina a ser impresso com energia elétrica.
Como presidente da Carjopa, não poderia deixar de lamentar a ausência do nosso cotidiano retratado pelo Monitor.

O Monitor, que há 175 anos trazia as coisas mais perto da gente, agora está mais distante de nós. Recuso-me a escrever buscando um tom obituário. Fato é que o Monitor fechou, mas tudo que se fecha pode ser reaberto.

O jornal é uma janela que se fechou, espero que temporariamente, e não podemos fugir pulando outra. Temos algumas portas para bater. Assim como todos os jornais de Campos buscam a imparcialidade, a Carjopa também prima por esse compromisso, razão pela qual sempre fomos acolhidos por todos os veículos, inclusive o próprio Monitor.

Acredito que a educação faz com que pessoas aprendam a ler, mas ela sozinha não é capaz de ensinar o que vale a pena ler. Daí a importância dos jornais.

Sei que no dia de hoje, em todas as atividades, até mesmo na arte, da qual confesso entender muito pouco, metade é negócios. Posso dizer, sem medo de ser mal interpretado, que o Monitor era um negócio inteiro, e um negócio sério, que outros negócios sérios não perceberam. Não soubemos cuidar bem do Monitor Campista, como ele cuidou bem de nossa Campos em 175 anos.

Não existem culpados nessa história, mas vítimas. Todos saímos feridos nesta história. O pior é que se não houver uma inversão deste quadro, a ferida se intensifica com o passar do tempo. E a pior delas.

Cada vez que se fecha uma escola, é aberta, no mínimo, mais uma cela em presídios. Cada vez que se fecha um jornal, mentes que deveriam ser abertas se encolhem. A tradição não é somente a teimosia da permanência. Todos morreremos um dia, mas um jornal precisa estar vivo para publicar nossos obituários. Triste da cidade que publica nos lábios das conversas das esquinas o obituário de um jornal, o que nos recusamos a fazer.

Prefiro falar da biografia do Monitor campista, uma das mais belas da imprensa brasileira, que assistiu e relatou a feitura do Brasil. Poucos jornais tiveram uma trajetória tão expressiva, que vai desde a publicação de classificados de venda de escravos até a venda de carros zero quilômetro ano 2009.

Espero que ele volte para publicar anúncios de carros zero 2010 e que no momento tenha tirado apenas merecidas férias.

Abordo esse assunto muito à vontade, pois teríamos o mesmo sentimento se isso ocorresse com outro veículo de comunicação. E tenho certeza que, mesmo em tese, concorrentes, o fechamento do Monitor não é página virada. Tenho certeza que será uma virada de página.


Eduardo Chacur
Presidente da Carjopa (Comerciantes e Amigos da Rua João Pessoa)

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