terça-feira, 16 de novembro de 2010

Nunca vou esquecer!


Luísa Ritter

Estou de volta a minha cidade – Resende – desde o início deste ano, mas, tenho certeza que esta não seria minha escolha caso eu ainda tivesse a oportunidade de trabalhar na “escola” Monitor Campista. Mesmo que curta, minha temporada no jornal foi uma das coisas mais importantes que já me aconteceu. Tenho orgulho de dizer que passei por lá... Que fui uma das filhas do jornal e, mais ainda, de dizer que fui a sua última estagiária.

Gosto de frisar que foi aí, com vocês meus AMIGOS, que aprendi muito mais do que técnicas de texto e éticas a seguir. Aprendi sobre amizade e bem querer. Obrigada a todos que pelo menos uma vez, já pagaram meu almoço e foram amigos ouvindo meus desabafos (saudades eternas disso).

E assim, com toda essa base que tive aí (sei que ainda me falta muita coisa), estou conseguindo caminhar na corda bamba do jornalismo aqui na minha cidade. Há quatro meses, eu e uns amigos abrimos o 1º jornal de esportes do sul do estado. Graças a Deus, os resultados estão sendo bons... Para quem quiser conhecer, temos um perfil no orkut com o nome Fãs do Esporte.

Então, obrigada a Maroca, que sempre elogiava meus textos e que também brigava comigo quando eu esquecia de fazer a chamada. Obrigada a Pati, por deixar entregar minhas matérias especiais às sextas-feiras, a Cilênio, por sempre emprestar livros e passar seus ensinamentos e, principalmente, a Claudinha, por ter me levado pra lá.

Todos são importantes e inesquecíveis. Da Juju, lembro pela calma; a Carlinha, pelas roupas lindas (rs); Alice, que mesmo nós sendo muito diferentes uma da outra, sempre foi ótima companhia; a Fernanda, por ser a guerreira que é; Ricardo, com que eu dividi por muito tempo a mesma mesa; Léo, o ursinho; Nagyla, a mãe do Arthur; Val, com quem até ontem eu trocava telefones de policiais; Teacher, com que já dei boas gargalhadas; e Juarez, o pobrinho mais rico desse mundo. Ah, também não vou esquecer do Srº Jucelino Maia. Entre briguinhas e puxões de orelha, conheci uma pessoa boa. Meus outros colegas, Jô (nossa, como que ela me ensinou!), Rato, Enockes, Elton, Valdemiro, Leudo, Jane, Dani, Lili, Ana Ruth, Miriam, Carla Rúbia (very special), Hélvio... nunca vou esquecer.
Um abraço bemmmmmm apertado.

(Foto da minha formatura, no Trianon: meus amigos do Monitor sempre presentes nos momentos especiais da minha vida!)

Monitor: uma grande escola

Jô Siqueira

Falar no centenário Monitor Campista é falar em um local tranquilo e agradável para trabalhar. Que me desculpem as outras redações por onde passei ao longo dos meus 24 anos de profissão. Eu tive o privilégio de trabalhar por duas vezes no Monitor. Na primeira etapa, o centenário jornal ainda era preto e branco e toda tarde eu, seu Maia e Paraíba (Antônio Leudo) ou Paulo Damasceno tínhamos a tarefa de circular pela cidade, ou precisamente pelas delegacias em busca de matéria. E sempre voltávamos para a redação com uma manchete. Até que chegou o dia (não me recordo a data) que ele passou a ser colorido. E lá estava eu assinando a matéria principal da primeira capa colorida do Monitor Campista.

Vivi momentos tristes, mas que marcaram a história do jornalismo, como foi o caso da última rebelião na 134º Delegacia de Polícia. Eu ainda amamentava meu filho Nelio, e ao passar numa tarde chuvosa de domingo, pela rua Formosa, vi aquele movimento infernal. Não pensei duas vezes, liguei para o fotógrafo Paulo Damasceno e passamos parte da noite e a segunda-feira ali, de plantão, esperando o desenrolar das negociações. E olha que naquela época o Monitor Campista não trabalhava aos domingos.

Entre um tempo e outro, eu ia a minha casa amamentar meu filho e voltava para acompanhar de perto o fechamento daquela situação que acabou na morte de três presos. Da redação, o editor Gustavo Araújo, brigava para que retornássemos, pois o jornal tinha que ser enviado para o Rio de Janeiro, onde era impresso. “Brigamos” para não perder o espaço junto aos concorrentes. E finalmente, tivemos a sorte de a rebelião terminar no final da tarde e conseguimos publicar a matéria com inicio, meio e fim.

Me orgulho muito de ter trabalhado no Monitor Campista, até mesmo por indicação da minha querida amiga Paulinha, Paula Virginia, que sempre me chamava para fazer sua coluna quando entrava de férias e pelo meu grande amigo José Carlos Nascimento,com quem apreendi muito. Depois saí e fui trabalhar em duas emissoras de TV, mas sempre mantive o contato com os colegas da velha redação.

O tempo passou, e o meu amigo José Carlos se aposentou e mais uma vez por indicação dele e dos meus amigos Antônio Leudo e Jocelino Maia (seu Maia) eu retornei para a redação. Desta vez, com a árdua tarefa de fazer pautas, onde levei mais 4 anos e 11 meses. Ao todo foram quase 10 anos de Monitor Campista. Até que veio o domingo 15 de Novembro de 2009, quando por ironia do destino, no Dia da Proclamação da República, o centenário Monitor colocava na rua sua última edição. Movimentos foram feitos, mas como a nossa cidade é o município do “ já teve” perdemos parte de nossa história e resta contar a nossos filhos e amigos, que Campos dos Goytacazes já teve o terceiro jornal mais antigo do país, assim como tantas outras coisas.

Só resta lamentar, pois apesar de ter sido chamado de jornal “ Chapa Branca” e “Jornal da Prefeitura”, o Monitor Campista incomodou muita gente do ramo da comunicação e serviu de pauta para muitos outros jornais e até TV.

Lamentamos que nossos políticos não tenham se empenhado pelo menos para salvar o acervo e dar continuidade à história. Mas se ainda existir vontade, quem sabe ainda exista tempo. Não tenho muito a reclamar da minha vida profissional, e hoje estou na assessoria da Associação Comercial e Industrial de Campos- ACIC.

Lembranças de um "menino"


Elton Nunes

Lembro-me da primeira vez em que entrei no Monitor Campista. Minha busca pelo primeiro emprego, tinha 17 anos. Estava ansioso e inseguro, era uma segunda-feira de março de 2000.
Ao entrar por aquelas portas, fui recepcionado por Junia, a secretária. Quando a vi, sabia que conhecia de algum lugar, então me apresentei:
- Boa tarde, me chamo Elton, e venho deixar um currículo, com Sr. Jairo.
- Boa tarde, eu sou Junia... espera, eu te conheço?! Você mora na minha rua, né?
- Hã, é mesmo, sabia que te conhecia de algum lugar!
Esse diálogo me ajudou a quebrar o gelo, então, Junia logo foi me mostrar a oficina de impressão, que ficava logo atrás da sala dela.
Quando entrei, vi uns homens desmontando uma máquina enorme, que eu nem sabia pra que que servia aquilo. Então Junia me explicou, percebendo minha cara de dúvida, que era aquela máquina que fazia a impressão do Monitor Campista, mas que estava ‘aposentada’, pois o jornal tinha se modernizado e estava imprimindo em cores.
Fui conduzido, então para a sala do Diretor-secretário, o Sr. Jairo, que me entrevistaria e analisaria meu currículo. Confesso que estava muito nervoso, suava frio, e disse que procurava meu primeiro emprego, mas Sr. Jairo me tranquilizou, dizendo que eu era jovem e aprenderia rápido a função, pois estaria sendo auxiliado. Então, Sr. Jairo, liga para o ramal da redação e manda chamar Sr. Edinho:
- Edinho, dá um pulinho aqui na minha sala, que eu quero te apresentar uma pessoa.
Fiquei aguardando quem entraria pela porta, então, logo a porta se abriu rápido:
- Pois não, Jairo?
- Quero que conheça o Elton, ele está querendo um trabalho. Em que podemos encaixá-lo para um estágio?
- Olha Jairo, eu posso ensiná-lo a minha função de Tratamento de Fotos.
Eu naquele momento fui levado por Edinho até a redação para conhecer a forma de trabalho de um jornal. Fui apresentado aos colegas, e recepcionado de maneira que me senti à vontade. Então Edinho me perguntou:
- Elton, então quando você pretende começar seu estágio com a gente?
Eu não queria perder tempo:
- Posso começar agora?
Edinho sorriu e me disse o seguinte:
- Essa foi a melhor resposta que já ouvi de um candidato para trabalhar aqui.
A partir desse dia, dez anos se passaram, e hoje, um ano sem o Monitor Campista, vejo que foram tempos bem vividos, mas que poderiam ter durado mais. Ficou um sentimento de menino de achar que as coisas nunca acabam.
Sinto muita falta dessa escola que ajudou a formar o meu caráter, a crescer como pessoa e profissional, da convivência com amigos que, pelas forças do destino, quase não os vejo, mas sei que cada um deles assim como eu, leva consigo o orgulho e o amor por esse jornal. VIVA O MONITOR CAMPISTA!

(A foto acima foi tirada na quinta-feira, véspera do fechamento de nossa última edição. Nela estamos: eu, Pati, Miriam, Silvana, Enockes e Zé Amaro, ou melhor, Agostinho. Repare que, mesmo feridos, estamos sorrindo. O sorriso que vem da certeza de que fizemos o melhor pelo nosso jornal)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

No "arraiá" das lembranças


Flávia Ribeiro

“Ai que saudades que tenho da aurora da minha vida...”no Monitor Campista. Cheguei como estagiária, em 1997! Fiquei um ano fora, trabalhando em uma TV e voltei feliz quando as edições repaginadas do Monitor já coloriam as bancas. Passei no Monitor, entre ida e vinda quase 10 anos, até ser demitida porque meu filho mais velho me obrigou a uma licença de 10 dias por motivo de doença. Nenhuma mágoa com o velho orgão. Fiquei foi triste quando vi de fora o que estava acontecendo, onde as ações humanas tinham levado o jornal.
Sou grata ao Monitor. Foi lá que aprendi a ser estagiária, repórter de todas as editorias, (até pra Eduardo dos esportes e pra Patrícia, da cultura fiz umas materinhas), cheguei a passar temporadas fechando páginas, fazendo pautas e tudo o mais que precisasse.
Foi no Monitor que cultivei amizades que nunca irão se perder. Foi lá que convivi com gente terna e rabugenta ao mesmo tempo como o querido seu Guimarães. Como Ronaldo Machado e Jolândio Porto, figuras que sabiam marcar presença como poucas. Com mulheres magníficas como Paulinha Virgínia, que fazia coluna social, vivia entre festas e tudo o que há de belo nessa vida, mas que era de uma sensibilidade com as questões sociais e dos companheiros que nunca vi em ninguém. Ai que saudades das conversas com Paulinha, quase sempre na porta do jornal!
Ai que saudade dos cafés com todas as meninas e com Rato e Guguta enquanto esperava as matérias chegarem. Que saudade das caras do querido Cilênio Tavares, o nosso Cici, verificando se estávamos enrolando o fechamento. Que saudades de dar água com açúcar a Mari Pessanha, das conversas com Carlinha. Das idéias trocadas com os estagiários, de ser repórter da editoria de Ricardo André! Que saudades que tenho das eleições trabalhadas como repórter sob a coordenaçao do querido Richard. Saudade das pessoas na rua comentando a isenção do Monitor. De João Ventura como meu estagiário, que me desculpem os outros, mas ele foi o mais inteligente.
Tenho inúmeras fotos dos tempos de Monitor, mas escolhi a deste ano, porque ela é uma boa demonstração de que a mágica do Monitor ainda vive. A festa caipira reuniu muitas gerações de todos os tempos em torno dos brindes a amizade, ao amor ao Monitor. Reparem na foto, o mestre Ricardo André Vasconcelos, a quem devo muito do que sei, o ritmo, as técnicas de apuração e muito mais, eu e João, que se não bastasse ter sido meu estagiário querido, ainda foi talentoso o bastante pra casar com a minha amiga Carlinha Cardoso!
Com certeza sofri menos que o pessoal que estava lá dentro há um ano, porque eu já estava trabalhando novamente em TV, mas me dói ver a loja de sapatos no prédio onde vivemos tantas coisas. Dói ver o prédio desconfigurado por uma reforma que acabou com a varanda. A janela trocada. Dói saber que o arquivo inteiro do jornal, cuidado com tanto zelo por Hélvio e Leandro Cordeiro foi colocado em um caminhão e arrancado de Campos. Dói não ver o jornal nas bancas.
Vivi no Monitor muitas histórias importantes. Foi lá que recebi a notícia da morte da minha querida avó Iracy, foi lá que por telefone falei com meu marido, que estava viajando, que teríamos nosso primeiro filho. Foi lá que ouvi uma das demissões da minha carreira. Foi lá que vi minhas amigas casarem, terem filhos, se apaixonarem, amargarem a dor de partidas. Foi lá que vi meninos virarem homenzarrões, como os filhos de Míriam, que conheci quase bebês e agora são pessoas enormes! Com certeza muito da pessoa que sou hoje devo ao Monitor, não seria a Flávia muito mais pacífica de hoje se não tivesse escrito algumas linhas e páginas dessa história. Ai que saudades que tenho...

Aberto


João Ventura

– Oi, tudo bem? Posso ajudar? – perguntou a mocinha.
– Hã... não. É... tô só olhando – respondi.
A moça só tentava ser simpática, eficiente. Eu, estava em transe. Naquele momento, ela não sabia, mas havia jogado uma bóia em um mar de lembranças que vieram à tona no momento em que entrei naquele estabelecimento. Nunca imaginei que uma loja de calçados me faria ficar assim.
– Fique à vontade, qualquer coisa, é só me chamar – disse, com um sorriso que pensava na comissão.
– Bem, na verdade, entrei aqui não foi por causa dos sapatos... meus pés só entraram. Vieram sozinhos.
A moça riu. Riu mas não entendeu o que eu havia dito. Ainda ébrio pelas lembranças, as palavras saíram, explicando:
– Aqui, neste prédio, funcionava minha casa. – disse, com a memória pontiaguda ferindo meu crânio por dentro – você lembra de como era isso aqui antes da loja? – perguntei.
– Hummm, não. Parece que, quando abre uma coisa nova, não nos lembramos da antiga – respondeu. Pelo seu olhar, ela pensava em como uma casa poderia “funcionar”.
Sem dizer nada, apontei o meio da entrada da loja. A moça, ainda com o pensamento na comissão, acompanhou o olhar. “Ali, ficava um balcão, onde as meninas da recepção, recebiam dezenas de pessoas. Era gente querendo fazer anúncio, aparecer, mostrar música nova, quadro novo, denunciar. Mas tinha mesmo era muita gente carente, só querendo um ombro amigo que lhe ouvisse”, detalhei.
– Ó, vinha esse monte de gente na sua casa? – indagou a pobre.
– Sim, vinham. E eles encontravam ombros amigos.
Caminhei então um pouco mais adiante, para a direita e passei por uma porta imaginária ao lado de uma senhora que, com dificuldade, experimentava sandálias. Muita dificuldade. “Daqui”, apontei, “se via o coração da casa. Vários computadores, pessoas apressadas. Todos também moravam aqui, éramos um pouco irmãos”, relembrei. “Uma vez, ali onde está aquela menina com a bolsinha, secretários municipais entraram pela porta, colocaram pressão. Queriam que publicássemos decisões oficiais. Enfrentamos. Ali, naquela vitrine onde estão agora as botas, ficava o editor-chefe. Ele gritava pra botar ordem quando tudo ficava muito bagunçado. E, com as pessoas que viviam aqui, ele tinha que fazer isso sempre”.
– Editor? Era o que que tinha em sua casa?
– Minha casa era um jornal – respondi entristecido – Eu ficava bem aqui, onde agora essas pessoas experimentam sapatos. Quando a ponte caiu, fomos correndo. Quando explodiu, também. Quando os prefeitos entraram e saíram. Quando os artistas vinham. Quando alguém era preso... – fiz uma pausa – aqui funcionava o Monitor Campista.
A moça ouviu isso e abriu um sorriso tímido. “Eu lembro dele”, disse, adicionando que gostava do jornal. “Minha mãe adorava, o achava o mais bonito”, disse a vendedora. “O que aconteceu? Faliu?”.
– Não. Na verdade, não sei. Pra mim é tão surreal que não sei dizer. Ninguém soube – e continuei caminhando para o fundo da loja. Lá, no caixa, a visão da registradora se sobrepunha à uma outra. Vi mais uma porta imaginária e entrei por ela, acompanhado da vendedora – Aqui, ficava uma pequena cozinha, acho que era o lugar que todos mais gostavam. As coisas aconteciam. De tanto vir, acabei me casando. Acho que a cerimônia começou aqui.
– A cerimônia começou aqui? Você casou dentro do jornal?
– Praticamente. Era como uma família aqui. Acabou se tornando minha família de verdade. Estranho né? Estranho e bom.
– É sim! Você se deu bem. E os outros, fazem o que da vida?
– Seguiram em frente, ainda tristes. Até tentamos voltar com tudo, mas era muita gente indiferente. Na verdade, quase ninguém se importa com isso, pois quase ninguém entrou aqui como você entrou hoje – disse à vendedora.
Nesse instante, outra funcionária interrompeu a conversa, pedindo ajuda à menina. Ela fez um sinal e se despediu, tinha saído da conversa diferente, ao invés de indiferente.
– Obrigada. Você me fez lembrar de um lugar bom, que eu não tinha conhecido antes. Mas, agora tenho que ir. Sei lá, acho que vou ficar meio triste trabalhando aqui agora, sabendo que é só mais uma loja de sapatos – disse, de cabeça baixa.
– Infelizmente, não vai. Vai passar, esse sentimento bom só fica pra alguns poucos. Só quem viveu, de verdade – disse a ela.
A vendedora deu as costas. Tratou-se de ocupar com suas tarefas. Depois de conversar com ela, senti que, assim como eu havia feito naquela manhã, as lembranças das pessoas que passaram por aquele prédio, número 202/204 da João Pessoa, mantinham, de alguma forma, o jornal aberto, ainda que só na imaginação.
Antes de sair, viro-me para uma última olhada e as portas se fecham às minhas costas. As letras na faixa azul estão lá, se despedindo. Fecham-se as cortinas, fim do espetáculo. Alguém interrompe:
– Oi. Posso ajudá-lo?
– Não, não. Estou só olhando. Só olhando...

(Na foto, do início da carreira, dou os "primeiros passos" no lugar que hoje abriga uma sapataria)

Saudade, revolta e boas lembranças

Jane Nunes

Acho que de combinado mesmo naquela fatídica semana só o uso da coincidência com o 15de novembro, Proclamação da República e a busca pela edição histórica que havia anunciado o fato para abrirmos o jornal de domingo. Ao localizarmos, uma sensação estranha ao ver aquela edição, tão antiga e tão bem conservada...
A última edição brotou em cada um de nós sem necessidade de capitular ou recapitular... Nossos sentimentos definiram a pauta da edição final, independente das "recomendações". Não apenas pela amargura do momento, mas pelo respeito que alimentávamos diariamente, independente das divergências que evidentemente existem em qualquer local de trabalho.
Em nenhum outro veículo de comunicação desta planície foram construídas relações tão verdadeiras e profundas quanto as nascidas ou reforçadas no " velho órgão".
A saudade é grande, a revolta pelas negociatas sórdidas também, mas vamos que vamos o Monitor não morreu e vai viver para sempre em cada um de nós.

Ê saudade...















Danielle Brandão

Uma manhã cinza. Ao abrir a janela me deparei com um céu nublado, diferente do domingo de sol que 2009 proporcionou. E uma lembrança veio à cabeça... Aquela edição que trazia uma mensagem subliminar. Mensagem esta que doía no coração de cada um que a ajudou a construir. Uma lembrança que se faz presente aonde quer que eu vá. As lágrimas que me escorrem da face não são de tristeza, mas de um silêncio que se encontra presente em mim. Mesmo com minha doença que me manteve afastada daquele lugar, eu sabia que se visse algo curioso, diferente ou absurdo, eu teria onde falar. Hoje, se me empolgo com algo, a boca se abre, mas o som não sai. E o silêncio invade o ambiente, mesmo em meio à multidão falante.

Quando ando no centro da cidade, evito andar pela João Pessoa em direção ao Mercado Municipal, pois quando passo, o coração dói. E as recordações surgem. Elas estão sempre ali, preparadas para vir à tona. Aquela caminhada até a redação, que podia fazer de olhos fechados. A corrida apressada até o carro de reportagem... Dizem que não devemos nos apegar a bens materiais. Mas vos digo que a saudade daquela porta de vidro de entrada, do ar-condicionado mais que frio, da minha mesa, do meu computador, do café que mesmo detestando era uma boa desculpa para uma pausa no trabalho. Ah, que saudade... Outra que dói também era poder dizer. “Trabalho no único veículo midiático decente desta cidade. E tenho orgulho disso”. Mas esta, continuarei a repetir, apenas mudando o tempo verbal.

(Na foto, eu, Meg, Paulinha, Claudinha, Alice e Jô. Ah, e as lindas rosas que ganhamos do poeta Antonio Roberto no Dia da Mulher)

Cada um no seu lugar













Silvana Rust

Ainda respiro notícia. Ainda transpiro informação. Ouço uma sirene e sinto falta de uma máquina fotográfica na mão. É como se eu estivesse incompleta. Meio perdida, deserta, recuperando o verdadeiro sentido da vida. Se vejo um acidente, imagino - que Deus me perdoe - a edição do dia seguinte. Com a foto de um carro na lama, um menino chorando, um drama. Um político se prostituindo, outro se destruindo. É o passado que me chama.
Parece que ainda escuto o "onde está Silvana?". E me recuso a acreditar que este bom tempo passou. Churrasquinhos da quinta-feira, do gato espetado que antecedia a edição dominical. Menos mal. Saídas à noitinha a sexta-feira. Gente que vem anunciar o casamento. Gravidez. Nascimento. Acidentes. Mortes. Festas. Sortes. Teatro. Prece. As nossa brincadeiras. Os meus amigos. As piadas. As perdas.
Que pena! Há uma foto que aumenta minha felicidade. De verdade. É esta com a redação vazia. De Gente. Brinco de adivinhar quem sentava em qual lugar. E tiro a fotografia que não precisa de flash, computador ou de luminosidade. Se eu batizasse esta foto, como minha filha, já teria um nome: saudade!

(Nossa redação sem o que ela tinha de mais precioso: as pessoas)

Ninguém matou o Monitor
















Raul Marques

Desculpem, amigos. Pelo menos sei o que digo. Ninguém matou o Monitor Campista. Ele permanece em nossas vistas. Um engraçadinho resolveu fechar o prédio, achando que Campos era cidade do interior, onde a vida é um tédio e que o jornal não tinha mais remédio. Quanta hipocrisia! Idiotice de quem não sabe o que fala. Ou vai falar que nunca disse que era esta sua vontade. Como os mais bárbaros seres da história, ateou fogo no jornal em papel, mas o fez nascer em outro céu. Sabem a razão? Ninguém mata o que é bom de verdade em nosso coração!

Aquela gente que eu assisti chorar trabalhando, ou trabalhar se lamentando, aprendeu com aquele falso assassinato que a morte de um jornal não existe, nem cai no anonimato. Permanece nas palavras escritas, ditas, nunca reveladas, em reportagens e fotografias por quem se era detentor da marca - ora, quem diria - por vezes censuradas.

Em blogs carentes de censura, feitos por amor a uma deslucrativa literatura, que faz bela a profissão de jornalista, ainda mais se ostentar no currículo, que sofreu uma tentativa de assassinato, tal qual o Monitor Campista.

Você hoje anda pelas ruas desta cidade fluminense e veja se alguém o convence, que algo ou outra publicação substituiu o jornal. Ninguém assim fala. Só sentem falta. Gente de classe média, baixa, alta. Até quem não tem qualquer classe e por simples educação - a minha - vira veículo de repetição analítica desta praga chamada picuinha política.

O Monitor, não. Este tinha ética. Visão. Não em tudo que o rodeava, mas na presença que se ausentava da Rua João Pessoa. Que coisa boa! Passar por ali e saber que naquele vazio, ou no algo novo que se tornará, um dia, muita gente viveu jornalismo, com sentimento, ardor, sem sensacionalismo.

Ah, covardia o que foi feito! Mas toda vez que olho para a foto da criança saindo do mar, parece que ela está triste, que perdeu o lugar, que não mais existe. É de penar. Se houvesse uma edição comemorativa, de um ano sem a publicação, e eu fosse escolhido o editor, talvez repetisse o tipo de foto da capa do Monitor, mas com outra entonação. Colocaria a criança na areia, a sorrir, a olhar o oceano, pronta a nadar e outra vez desfrutar daquilo que jamais morreu.

O Monitor ficou em todos. E um ano silenciado no papel, foi para os verdadeiros monitores dos nossos computadores.

Quem sabe, daqui a uns dois anos, outra edição não será publicada. na fota da capa, com uma criança, então adolescente, nadando desejeitada - e olha que o jornal era tido como velhinho - a uma nova vida, a outra existência. A que ninguém mata. A que ninguém questiona jamais a ausência.

Em mim não dói. Você, ex-funcionário, será sempre um herói. E a história há de se lembrar sempre deste forte menino por quem temos tanto amor. A história sempre vai punir o assassino do nosso sempre vivo Monitor.

Morte sem autópsia











A dor da perda de algo que nos é importante(hoje faz um ano que "morreu" o "Monitor Campista") a mim se expressa no espanto primeiro; na primeira lágrima: no primeiro grito sufocado na garganta e nas palavras primeiras que consegui escrever e que ficaram patenteadas em sua última edição.
Portanto,as reproduzo com a emoção primeira:

Crônica de uma morte anunciada


Walnize Carvalho

Não há como não deixar de parafrasear o escritor e jornalista colombiano -Gabriel Garcia Márquez – e utilizar como título de minha crônica a obra consagrada deste brilhante autor.
Nem há, como também, ficar indiferente e usar o velho chavão : “ A única certeza desta vida é a morte”.E eis que o “paciente” sabia que iriam adoecê-lo e ,quem sabe, até levá-lo a fenecer .Apesar da idade avançada gozava de uma saúde de ferro de causar inveja aos mais novos.
Viril, pontual, atualizado, culto ,simples, popular, sempre foi figura querida e estimada por onde passava. Tinha assunto para um dedo de prosa ou verso com qualquer classe social: do operário ao intelectual. Mesmo vestido em trajes sóbrios , sua elegância ímpar o fazia circular por salões suntuosos e nos mais simples ambientes de festa.
Esteve sempre presente ao que se passava a sua volta: quer seja no seu quintal, no seu município, no seu país e até no mundo a tudo estava atento .Observador contumaz ,analisava os fatos e com firmeza e lisura deixando patenteada a sua opinião.
Versátil, sabia dialogar sobre política, meio ambiente, educação, cultura, arte, saúde, esportes, economia,lazer, gastronomia, tecnologia, viagem, acontecimentos policiais ou sociais .
Amigo, recebia em sua “casa” a todos com o mesmo carinho e hospitalidade: quer os seus membros efetivos como os visitantes. A “mesa” sempre posta com um cafezinho tirado na hora complementado de saborosos pães representava o verdadeiro alimento da alma.
Vivia assim: firme em seus propósitos, consciente do seus deveres, trabalhando com honradez na missão a ele outorgada.
E foi, que possuindo tantos predicados começou a incomodar. Como herói da resistência começou a ter que administrar adversidades. Passaram a lhe dar doses homeopáticas de desânimo, tristeza, desamor, incompreensão, fraqueza, disputa de poder e com as forças por um fio adoeceu... e morreu.
Com o coração enlutado despeço de você –MONITOR CAMPISTA_ neste domingo , relembrando os tantos domingos que abrigou meus textos literários.

Ainda falta o seu!


Ei, você, colega que está lendo este blog agora, mande um texto para que a gente publique. Ainda dá tempo. Infelizmente não pudemos entrar em contato com todos. Serão todos muito bem-vindos!!!
Abraços!

(Foto: mãos unidas em nossa festa de confraternização do ano passado. Fátima Nascimento)

A difícil e última edição...
















Patrícia Bueno

Na sempre vibrante redação do Monitor Campista, um silêncio amargo denunciava a ressaca de um dia inteiro embriagado de tristeza. - Por que caíra logo na minha mão a responsabilidade pela última edição? – praguejava enquanto passava os olhos naquelas que seriam as últimas páginas depois de 175 anos de história. Nunca foi tão difícil preencher os “AAAA” colocados pelos diagramadores, provisoriamente, no lugar de títulos e legendas. Bloqueio. Bloqueio total.
Queria ter forças para fazer uma edição memorável, mas a recomendação era que fizéssemos um jornal “leve”, como se nada estivesse acontecendo. Queria gritar para o mundo: “Estão matando nosso patrimônio!”, mas a ordem era fazer um jornal “pra cima”, sob pena de não irmos para as bancas no domingo.
Testemunhei conversas preocupadas pelos corredores durante todo o dia, beijos e abraços de despedida, choros emocionados, olhares perdidos, promessas de amizade eterna, gavetas e sonhos sendo esvaziados, velhas apurações e seus garranchos amontoadas na lixeira. Parecia mentira.
Um filme passou pela minha cabeça enquanto tentava interceptar as lágrimas que caíam sobre o teclado do computador. A noite descia silenciosa. Os colegas iam para casa de olhos inchados. Esforçava-me para trabalhar a derradeira edição. Meu pensamento voou longe, lá pelos anos 90, quando subi pela primeira vez as escadas que levavam à redação antiga. Benditos degraus que me conduziram ao Monitor, minha grande escola, lugar onde conheci grandes amigos e aprendi lições que vou levar para minha vida inteira.
E os AAAA dos diagramadores continuavam lá, a me desafiar, como a zombar de minha grande angústia de encontrar as palavras certas para ilustrar, mesmo que nas entrelinhas, aquele momento histórico. Mas onde foram parar as malditas palavras? Aquelas que sempre fluíram quando precisava, formando títulos sempre elogiados pelos colegas. “Vamos, Patrícia, pense em algo, é nossa última edição”. Pairava sobre mim essa grande responsabilidade, sem dúvida, o maior desafio de minha carreira.
E assim, entre títulos, subtítulos, lembranças, legendas e lágrimas fui tecendo a última capa, cinzenta, melancólica como a foto do menino pisando as areias da praia (que se danem as ordens e recomendações...).
E quando, enfim, terminei a edição da capa, tudo a minha volta era saudade. Máquinas desligadas, gavetas vazias, o copinho com o café que ficou pela metade, as violetas sobre a minha mesa numa vã tentativa de amenizar o sofrimento, o relógio na parede a me lembrar que era chegada a hora de ir, catando no chão o que ficou de nossos sonhos naquela sexta-feira 13. Silêncio.
Impregnados naquelas paredes, onde hoje estão estantes com sapatos, ficarão para sempre nossas barulhentas trocas de turno (a extensão do mercado municipal, brincávamos), nossos risos, as piadas, o clima tenso de fechamento de edição, segredos, histórias e mais histórias. Lembranças...
Não sei se a capa parida a duras penas chegou ao leitor com a mesma emoção com que foi feita. Não importa. Fizemos o melhor. O Monitor não morreu. Estará sempre vivo no coração da família que todos os dias se reunia para fazer com que ele chegasse às bancas, estará sempre vivo na página que alguém emoldurou e colocou, com orgulho, na parede. Num velho recorte perdido numa gaveta qualquer. O 15 de novembro de 2009 foi sim “um dia que ficou na História”. Mas muitos foram os dias que ficaram na nossa história, afinal, há um pouco de nós em cada página que ajudamos a escrever.

(Na foto, o dia em que "levamos" Enockes à nossa festa. Nela estamos eu, Zé Amaro, vulgo Agostinho, e Elton. Enockes não pôde ir em carne e osso, mas até que ficou engraçadinho de papelão... rsrsrs. Saudade dessas nossas peraltices...).

Guerreiro de papel


Fátima Nascimento

cento
e
setenta
e
cinco
anos
o tempo
passou
e passa
faz parte da vida
e da história
pra permanecer vivo
lutou
ele se vestiu do novo
em qualidade cresceu
não adiantou
foi despido de palavras
memória nua
apagada
afrontado indefeso
assassinado
no dia 15 de novembro de 2009
mataram o Monitor Campista
jornal centenário no tempo
guerreiro de papel
terceiro filho da imprensa no Brasil


(Estou na foto com os amigos Cilênio e Mário Neto. Bons momentos na casa da querida Jane)

Queria que não fosse um texto triste















Carla Cardoso

Há certas coisas que realmente são intraduzíveis em palavras, diz o poeta Ferreira Gullar. O nó na garganta, o frio na barriga, a cratera dentro do peito... Nada disso tenho como explicar, como transcrever em palavras. Só sei que estão aqui, latentes, há um ano, dentro de mim. Quem trabalhou no Jornal Monitor Campista talvez compreenda esse embargo, essas lágrimas que teimam cair dos meus olhos. Compreendem, mas também não conseguem explicá-los.
Há exatamente um ano, a última edição do Monitor foi vendida nas bancas. Revolta, tristeza, surpresa... um misto de emoções nos abalou. Foi difícil acreditar que, apesar de nossos esforços, tudo poderia se acabar ali. Eu não faria mais o trajeto diário da rodoviária à Rua João Pessoa, 202/204, e chegaria até a redação do Jornal cheia de papéis de propagandas, que sempre me entregavam nas ruas.
Eu não mais atenderia Adão, o alegre lavador de carros que quase todas as tardes ia filar, comigo, um cafezinho e um dedinho de prosa... Quantas vezes, com páginas para editar, eu deixava tudo, e ia atendê-lo... e ele retornava na semana seguinte, com o mesmo sorriso tímido e falhado, pois ali, como eu, ele se sentia acolhido, embora fosse invisível pela sociedade em diversos outros espaços.
O moço do “milho-papa-e-pamonha” não mais marcaria ponto lá, nem mesmo a dona das balinhas de coco e açúcar. Eu não leria mais os e-mails e bate-papos de Mariane ou Pati, ou acompanharia as infinitas discussões sobre os mistérios Divinos, com Enockes e Elton, nem falaria sobre Mia Couto e Agualusa com Mirian, no espaço externo, tomando café... Quanta coisa boa vivemos naquele prédio, naquele lar, naquela família.
Durante esses 365 dias, por muitas vezes fiz o trajeto Centro – Mercado Municipal, para ir a São João da Barra, onde trabalho como assessora na Secretaria Municipal de Comunicação. Passar pela João Pessoa, e, portanto, em frente ao prédio 202/204, é quase obrigatório. Nesse período, acompanhei a morte da plantinha do escritório que ficou abandonada na parte superior do prédio; vi quando o local foi colocado à venda, quando tiraram o letreiro com o nome do Jornal e quando colocaram tapumes para início de uma obra. Vi também o movimento dos operários que entravam e saíam de trás daquelas madeiras, ouvi barulhos de máquinas e, a cada martelada, se ia um pedacinho de meu coração. Meu desejo era que eles parassem com tudo, mas ninguém me ouviu, ninguém me viu. Ninguém reparou que meu olhar não era de curiosidade para o que apareceria ali. Mas um olhar de desespero porque eles estavam quebrando o meu lar.
E nesse meu ir e vir, um dia, a obra cessou. Os tapumes saíram de lá e a casa antiga de dois andares deu lugar a um ambiente aparentemente mais moderno, com uma nova porta de correr e sem o espaço externo onde tomávamos café. Quando vi pela primeira vez a bela loja de calçados naquele recinto, não foi a sandália de salto alto pink que anuncia a tendência do verão que me chamou a atenção. Foi o chão, que eu acho que ainda é o mesmo, ou é bem parecido. Pelo menos eu tive essa impressão, até atravessar a rua sem coragem para continuar ali, observando aquelas carinhas alegres por terem um novo emprego, atendendo clientes, e a mulherada parando o trânsito em frente àquela vitrine tão colorida.
Mas aquelas paredes – essas sim, ainda são as mesmas, com certeza – foram testemunhas de tempos tão bons e nos trazem a energia de momentos únicos. Ao passar por lá sinto um brisa diferente e me lembro do que também diz Gullar: “vento no rosto é sonho”. O que vai acontecer, eu não sei, mas o que passamos ali algo que vamos trazer para sempre, algo que ninguém poderá tirar de nós.

(Claudinha, Dani, Jô, eu e Alice. Pausa para uma foto na redação)

Ainda dói...

Alicinéia Gama

Ainda dói muito saber que o Monitor não existe mais. Dói saber que não vou encontrar os meus colegas diariamente, e que não poderei mais dizer que trabalho no jornal mais antigo de Campos. Só nos resta torcer para que ele seja sempre lembrado, por sua importância na história de nosso município.


atualização em 16/11/10




Todos devem ter estranhado, afinal, a mais faladeira da redação foi a que menos escreveu (rs)!
Explico: é que quando Patrícia me falou da proposta, entendi que deveria ser breve o texto.
Mas se é para recordar, vamos lá....



Bem, o Monitor foi o meu primeiro emprego na área. Sinceramente, fiquei muito feliz quando surgiu a chance de estagiar lá, em 2001, porque eu já nutria uma grande simpatia pelo jornal.



A hospitalidade dos colegas sempre chamou a atenção (e era assim com todo mundo que chegava). Lembro-me, como se fosse hoje, da boa vontade que os mais experientes tinham em ajudar os novatos.



Para mim, o Monitor foi muito mais que uma escola. Naquela redação, na movimentada João Pessoa, não só aprendi a escrever reportagens como também criei laços de amizade dentro e fora dali.



Nesses 8 anos e 9 meses, tive a chance de entrevistar muita gente bacana; pude mergulhar na história de Campos e até visitei uma plataforma de exploração de petróleo, a convite da Petrobras em 2003...



Há um ano, o sonho acabou. Quem fez parte dessa história sabe o quanto é difícil e triste aceitar isso. Mas foi preciso virar a página, seguir em frente, afinal, como dizia o Cazuza: “O tempo não pára”.

Um ano de saudades



















Mariane Pessanha

Ratinho, vamos mudar a página A7! Eram assim as nossas rotinas no Monitor Campista. Final de tarde, jornal quase fechado e sempre estourava um factual e a página de polícia mudava toda. E o Ratinho, diagramador, me olhava com aquela cara de quem sabia que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde.Correria, adrenalina e muita vontade de fazer o melhor. E, sem falsa modéstia, a gente fazia o melhor.

Há um ano não consigo mais passar pela Rua João Pessoa, no trecho entre a Lacerda Sobrinho e a Barão do Amazonas. O prédio onde ficava a sede do Monitor Campista se transformou em uma loja. É a prova viva do assassinato do Monitor. Não existe mais o nosso prédio, o jornal, as páginas que a equipe lutava bravamente para fazer bem feito. Mas ficaram as lembranças. Lembranças que ninguém vai conseguir tirar de nenhum de nós.

O Monitor não era apenas um jornal, era uma família. E como toda família tinha brigas, discussões mas nada que um cafezinho na cozinha não resolvesse. Aliás, a cozinha era um lugar à parte. Era lá que a gente resolvia as pautas, as fotos que abririam ou não as páginas ou resolvíamos problemas sentimentais. E ainda tinha a lua cheia para quem pudesse parar um pouquinho e observar o céu. Éramos privilegiados. Mas talvez tantos privilégios incomodassem... e o incômodo foi tanto que há um ano fecharam as portas do Monitor.

Calaram nossas vozes, mudaram nossas rotinas, dividiram nossa família. Mas nada disso foi capaz de destruir em cada um de nossa equipe o orgulho de ter participado do nosso querido Monitor. O nosso jornal vai existir sempre no coração, nas veias e na alma de quem de alguma forma participou de suas páginas. Fecharam nosso Monitor mas jamais irão matar nossa esperança de um dia abrirmos novamente suas portas. E, certamente, nosse dia, vou mais uma vez gritar no meio da redação. Ratinho, corre, vamos mudar a A7!!!!!!

(Amigos queridos na Praça São Salvador em clima de Natal. Comemorávamos meu aniversário e o de PC depois do fechamento de uma de nossas edições)

Tudo mudou de cor











Nagyla Correa

Ir ao Centro da cidade e andar pelo Calçadão nunca mais foi a mesma coisa. Já se passou um ano, mas aquela procura de personagens para as enquetes de matérias polêmicas ou mesmo o breve intervalo entre uma entrevista e outra que tinha sempre como destino as ruas centrais permanecem intocados em minha memória. Seriam simplesmente lembranças, não fosse o cheiro doce que ainda sinto daquelas tardes, às vezes quentes, às vezes chuvosas – muito mais agradáveis que cansativas –, nos quase 10 anos em que ajudei a escrever a história de Campos nas páginas do Jornal Monitor Campista.
Tudo tinha um sentido muito diferente! Subir a Rua João Pessoa, entrar na Boulevard e retornar à redação pela Lacerda Sobrinho era percorrido com frequência nos dias de trabalho e revelava certa intimidade com a cidade. Afinal, tudo era observado além do que os simples olhos pudessem ver. Não era o meu olhar que pairava sobre as lojas, os produtos e as pessoas conversando nas bancas, nos cafés, nas calçadas... Era o dele, o do querido Monitor. Quanto orgulho caminhava junto, nossa!
Agora, voltei a enxergar apenas com meus olhos. Já não posso mais contar com a visão do ‘amigão’ de antes. Isso é muito doloroso! A morte do jornal foi como perder uma pessoa muito querida e que, por mais que se juntem esforços, a vida nunca mais volta a ter a mesma cor, o mesmo brilho. Por outro lado, a alma do Monitor parece impregnada em meu ser. Deve ser por isso que em todas as vezes que passo pelo Largo da Imprensa e adjacências sinto pulsar em meu peito ainda de forma bastante latente o ritmo frenético do Jornal Monitor Campista. É como se tivesse que voltar daqui a pouco para a redação.
Só que nesse momento sou bruscamente acordada de meu devaneio pela dura realidade. Aquele endereço cativo na Rua João Pessoa, eternizado nas minhas lembranças, agora, figura com outra fachada, com outra vida. Nele só restou mesmo a alma. A alma de quem lutou e resistiu a muitas tempestades, mas não a todas. Quer saber? Não vou mais descer por aqui pelo lado da Catedral. Melhor mesmo é mudar de trajeto pra ver se ameniza essa infinita saudade. Sem dúvidas, é mais fácil do que esperar que tudo volte a ser como antes.

(Na foto, eu e Juarez Fernandes esperando Seu Maia para mais uma saída no carro de reportagem)

Túnel do tempo















Hélvio Cordeiro

Para mim, que sempre (ou na maior parte do meu tempo) vivi envolvido com pesquisas, passei vinte maravilhosos anos trabalhando no Jornal Monitor Campista (no qual me aposentei). Descobri o que de melhor existia por lá, independente dos colegas de dia a dia de trabalho (uma verdadeira família), que era o que cognominei de “Túnel do Tempo”, ou seja, o arquivo do jornal. Ali viajei pelo mundo da nossa História. Fui até a Villa de São Salvador. Passei pelas ruas ainda sem calçamento. Vi as charretes passeando pela Praça Principal ou da Matriz. O burburinho do comércio. A grande movimentação dos portos e, o sofrimento dos negros escravos. Mas, tal qual um sonho jamais imaginado pelo maior pessimista, esse sonho passou e, para a minha maior tristeza, fui obrigado a acordar e perceber que não era sonho e sim uma dura realidade. Fecharam nosso “Túnel do Tempo” e ainda levaram nossa história. Nossa História, nossos Pesquisadores e os verdadeiros apaixonados pelo nosso mais tradicional e insubstituível Jornal Monitor Campista ficaram órfãos e abandonados, meio que sem rumo, não tendo mais aquela referência da imprensa escrita de Campos nas bancas todos os dias de manhã. Acho que é por isso que não vejo mais graça nenhuma em ler jornal.

(Nós no aniversário de Nagyla. Sempre tinha uma pausa na edição para o "parabéns pra você"...)

Ainda não passou...















Cilênio Tavares

Um ano. E a ferida ainda não cicatrizou. Se é que isso vai acontecer um dia. Longe de mim abrir, neste texto que está sendo produzido com muito esforço — doloroso mesmo — espaço para citações carregadas de pieguices ou coisas afins. Também não me peçam para ficar alheio, fingindo que houve superação. Não houve. E nem para ficar calado. Não dá. Ainda sentimos aquele gostinho amargo na garganta. Aquela sensação
de que tudo poderia ter sido diferente. Que foi apenas um sonho ruim que um dia vai passar. Lembranças. Hoje, por opção, só lembranças boas de um convívio que, mesmo profissional, beirava o afeto de uma família, com todos os ingredientes que permitem o aprendizado diário um com o outro.
Com momentos de satisfação quando emplacávamos uma boa edição e até rusgas, mínimas sempre que possível, que não duravam mais que cinco minutos até a convivência harmônica retomar seu espaço. E mesmo para o padrão do jornalismo dito moderno, sem muito espaço para relacionamentos fraternos em tempos de internet, a boa convivência no ambiente de trabalho era a regra, não a exceção. E isso fazia a diferença na hora de discutir pautas, produzir textos, moldar edições diárias de um jornal que conseguiu superar obstáculos por 175 anos.
Que viu a Vila de São Salvador ser elevada à condição de cidade, relatou a primeira e a segunda Guerra Mundial, revoluções, golpes de estado, suicídio de um presidente, uma ditadura que cerceou o direito à liberdade de expressão em território brasileiro, a retomada da democracia em meados dos anos de 1980. Até tombar, com uma
surpreendente e inexplicável indiferença da sociedade que usufruiu dele por todo esse tempo, em 15 de novembro de 2009.
Pelo menos 12 anos da minha vida profissional foram vividos dentro da redação do Monitor Campista. Nesse curto período, tivemos perdas de alguns companheiros que hoje também são só lembranças, doces lembranças. Difícil falar do Monitor sem lembrar Paula Virgínia Oliveira — colunista social para os leitores e simplesmente Paulinha, para nós. E como digitar um texto sem se reportar às “broncas” que vez por outra nos dava o revisor Guimarães — “Seu Guima” —, ou lembrar das mesmas piadas contadas inúmeras vezes pelo diretor de Redação Eduardo Augusto de Souza, o “Dudu”. Os três já não estão mais entre a gente, mas fizeram uma enorme diferença, pelo menos na minha vida. Não passaram em branco, assim como não passou o jornal que era fonte rica da história de uma cidade que insiste em jogar a história para debaixo do tapete, sempre que pode. Aos ex-companheiros de trabalho, a certeza de que vocês também continuam fazendo parte da minha vida. De um jeito ou de outro, me fizeram ser uma pessoa diferente do que eu era quando começamos a conviver. E à proporção que o tempo vai passando nas nossas vidas, vemos que o crescimento se dá não com o que deixamos de fazer, porque que o tempo não volta, mas com o que podemos construir no agora. E o agora diz que temos que continuar com a cabeça erguida, principalmente por ter a certeza de que, uma vez naquela redação, demos o melhor de nós.
E hoje, 15 de novembro de 2010, a dura e amarga sensação de indiferença que cercou o encerramento das atividades do Monitor Campista — salvo as exceções já devidamente conhecidas pela população graças ao movimento em torno da tentativa do salvar o jornal — ainda não passou.

(Na foto, eu, Míriam, Carla e José Amaro, em uma de nossas festas de fim de ano)

Tempo bom!















Valquíria Azevedo

Dois anos e 11 meses. Esse foi o tempo que dividi a redação do Jornal Monitor com colegas, amigos e, diga-se de passagem, excelentes profissionais, até o seu fechamento, em 15 de novembro de 2009. Quando lá cheguei tinha o conhecimento do peso de um jornal centenário, mas não imaginava passar por um momento tão difícil e doloroso logo no início da profissão que escolhi.
Hoje faz um ano do fechamento do jornal. Na mesma proporção que bravamente lutamos para que esse não fosse o final, também choramos. Choramos a separação dos colegas com quem passávamos o maior tempo de nossas vidas, de parar um trabalho feito com comprometimento e satisfação. Passar na Rua João Pessoa, hoje, e ver uma loja de sapatos no lugar da redação que me ensinou a dar os primeiros passos como jornalista, que me deu lição de isenção ao apurar uma matéria, a respeitar o meu entrevistado, dói. Dói muito!
O fechamento do velho Monitor foi inevitável. Perdi um excelente jornal, que além ter sido a grande oportunidade da minha vida profissional, também me abastecia de conhecimentos e valores que levarei para toda vida.
Agora fico com a saudade, como a de alguém que perdeu algo muito precioso. Saudades de Patrícia Bueno me cobrando especial do caderno de domingo. De Jô Siqueira com suas pautas e põe pautas nisso. Das vezes em que junto com Mariane Pessanha corríamos para embarcar no “Tapera”. De Cilênio Tavares me cobrando a matéria por causa do horário de fechamento e Ricardo André Vasconcelos dizendo, aos domingos: “Não vai me arrumar nada na hora do fechamento”. Dos sorrisos de Carla Rúbia Paixão, Luisa Ritter, Leonardo Alvarenga, Liliane Barreto, Jane Nunes,Nágyla Correa e Alicinéia Gama.
Também sinto saudades de Miriam Cristina e Hélvio Cordeiro, falando das concordâncias verbais. Dos diagramadores: Elton, Ratinho e Meg se desdobrando com os meus textos enormes (poder de síntese nenhum). Do carinho de Ana Ruth Manhães, Flávia Nunes e Antônio Leudo. Das brigas com Seu Maia e do Juarez Fernandes, meu eterno “Pobre". Das músicas cantadas por Mário Neto e Izael Barrozo. E as doideiras com Silvana Rust, que já me fez andar em carro usado por bandidos numa tentativa de assalto frustrado pela polícia, para garantirmos uma boa matéria.
De Carla Cardoso e João Ventura, o casal Monitor. De Eduardo Ribeiro, Valdemiro e até da Fera de Macabu (desculpem, piada interna)... rsrsrsrs. Falando na “Fera”, hum! Que vontade de tomar o café feito por seu Élson e receber o carinho de José Amaro, meu querido Guguta. Tempo bom! Assim era o Monitor e assim será enquanto a memória não falhar e a lembrança me permitir reviver as coisas boas da vida.

(Eu e minha amiga Luisa: só sorrisos!)

O que a morte do Monitor diz sobre nós

Vitor Menezes

Quem já assistiu Dogville entenderá o que quero dizer. Há na história a insinuação de uma cumplicidade em torno de uma culpa que aprisiona os habitantes do vilarejo. Na ausência de grandes sucessos coletivos, o que os une são os fracassos. A liga que os mantém pertencentes ao lugar é um somatório de ressentimentos mútuos. Quanto mais desconfiam uns dos outros, mais se sabem parecidos e necessários para que entendam a si mesmos. E mais ferozmente rechaçam a visitante indesejada que os expõem aos seus fantasmas.

Penso em coisas assim quando lembro que não foi possível levantar parcos R$ 250 mil junto a pessoas físicas e jurídicas de Campos para comprar a marca Monitor Campista para mantê-la viva, pronta para completar 176 anos no dia 4 de janeiro de 2011, desta vez sob a guarda de uma instituição que fosse gestada pela sociedade, uma Fundação ou algo do gênero, como propôs o Movimento Viva Monitor. E, por não dispormos desta ninharia na cidade do orçamento bilionário, pela falta do equivalente a menos de 1/3 do que custou a mega tenda da Bienal (R$ 820 mil), apenas para ficarmos em um exemplo recente de opulência, o terceiro jornal mais antigo do País morreu.

Teve empresário líder de entidade classista que chorou na manifestação contra o fechamento do jornal e depois não foi capaz de mobilizar nem a si mesmo para fazer uma doação, muito menos os seus colegas. Teve comerciante tido como próspero que teve a cara-de-pau de doar tão pouco que, envergonhado, pediu para tirar seu nome da lista de doadores (onde, transparentemente, figurava como qualquer um). Teve colunista social que desdenhou da mobilização, justamente por ser uma mobilização, coisa de empregados do jornal, portanto algo natimorto. Teve blogueiro tido como entusiasta dos movimentos coletivos que desconfiou tanto, mas tanto, que não foi capaz de ultrapassar a inércia da sua desconfiança.

Certa vez conheci uma cidade no Rio Grande do Sul que tem como principal monumento, em sua mais charmosa praça, uma estátua em homenagem ao cooperativismo. Trata-se de Nova Petrópolis, que se orgulha de ter a mais antiga cooperativa de crédito do Brasil e tem até um roteiro sobre o tema para turistas.

Lembrei dela quando ouvi, na Bienal encerrada ontem, a pesquisadora Dilcéa de Araújo Smiderle, que lançou “O Multiforme Desafio do Setor Sucroalcooleiro de Campos dos Goytacazes”, afirmar que Campos não consegue aproveitar o boom do etanol no mundo, entre outras razões, por serem os campistas muito desconfiados uns dos outros. Seu argumento é o seguinte: como o agronegócio requer grandes investimentos e grandes áreas, e como as propriedades locais foram, ao longo de séculos, repartidas por muitos herdeiros, elas se tornaram pequenas e a única forma de torná-las “grandes” seria por meio do associativismo (para, por exemplo, viabilizar a irrigação), o que não ocorre. Nem mesmo para salvar a lavoura.

Um ano após a morte do Monitor, percebo que este até se mostra um assunto indesejado. Uma vergonha que queremos ocultar. Como os habitantes de Dogville, o que nos resta é compartilhar em silêncio mais esta culpa que nos amesquinha e nos torna tão unidos em nossa vilania. Algo que só os nossos olhares cada vez menos altivos revelam. Mas no íntimo sabemos: deixamos o Monitor morrer, para o gáudio dos seus assassinos diretos. Somos cúmplices em mais este caso de homicídio. E, portanto, somos cada vez mais campistas.