segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Ninguém matou o Monitor
















Raul Marques

Desculpem, amigos. Pelo menos sei o que digo. Ninguém matou o Monitor Campista. Ele permanece em nossas vistas. Um engraçadinho resolveu fechar o prédio, achando que Campos era cidade do interior, onde a vida é um tédio e que o jornal não tinha mais remédio. Quanta hipocrisia! Idiotice de quem não sabe o que fala. Ou vai falar que nunca disse que era esta sua vontade. Como os mais bárbaros seres da história, ateou fogo no jornal em papel, mas o fez nascer em outro céu. Sabem a razão? Ninguém mata o que é bom de verdade em nosso coração!

Aquela gente que eu assisti chorar trabalhando, ou trabalhar se lamentando, aprendeu com aquele falso assassinato que a morte de um jornal não existe, nem cai no anonimato. Permanece nas palavras escritas, ditas, nunca reveladas, em reportagens e fotografias por quem se era detentor da marca - ora, quem diria - por vezes censuradas.

Em blogs carentes de censura, feitos por amor a uma deslucrativa literatura, que faz bela a profissão de jornalista, ainda mais se ostentar no currículo, que sofreu uma tentativa de assassinato, tal qual o Monitor Campista.

Você hoje anda pelas ruas desta cidade fluminense e veja se alguém o convence, que algo ou outra publicação substituiu o jornal. Ninguém assim fala. Só sentem falta. Gente de classe média, baixa, alta. Até quem não tem qualquer classe e por simples educação - a minha - vira veículo de repetição analítica desta praga chamada picuinha política.

O Monitor, não. Este tinha ética. Visão. Não em tudo que o rodeava, mas na presença que se ausentava da Rua João Pessoa. Que coisa boa! Passar por ali e saber que naquele vazio, ou no algo novo que se tornará, um dia, muita gente viveu jornalismo, com sentimento, ardor, sem sensacionalismo.

Ah, covardia o que foi feito! Mas toda vez que olho para a foto da criança saindo do mar, parece que ela está triste, que perdeu o lugar, que não mais existe. É de penar. Se houvesse uma edição comemorativa, de um ano sem a publicação, e eu fosse escolhido o editor, talvez repetisse o tipo de foto da capa do Monitor, mas com outra entonação. Colocaria a criança na areia, a sorrir, a olhar o oceano, pronta a nadar e outra vez desfrutar daquilo que jamais morreu.

O Monitor ficou em todos. E um ano silenciado no papel, foi para os verdadeiros monitores dos nossos computadores.

Quem sabe, daqui a uns dois anos, outra edição não será publicada. na fota da capa, com uma criança, então adolescente, nadando desejeitada - e olha que o jornal era tido como velhinho - a uma nova vida, a outra existência. A que ninguém mata. A que ninguém questiona jamais a ausência.

Em mim não dói. Você, ex-funcionário, será sempre um herói. E a história há de se lembrar sempre deste forte menino por quem temos tanto amor. A história sempre vai punir o assassino do nosso sempre vivo Monitor.

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