segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Cada um no seu lugar













Silvana Rust

Ainda respiro notícia. Ainda transpiro informação. Ouço uma sirene e sinto falta de uma máquina fotográfica na mão. É como se eu estivesse incompleta. Meio perdida, deserta, recuperando o verdadeiro sentido da vida. Se vejo um acidente, imagino - que Deus me perdoe - a edição do dia seguinte. Com a foto de um carro na lama, um menino chorando, um drama. Um político se prostituindo, outro se destruindo. É o passado que me chama.
Parece que ainda escuto o "onde está Silvana?". E me recuso a acreditar que este bom tempo passou. Churrasquinhos da quinta-feira, do gato espetado que antecedia a edição dominical. Menos mal. Saídas à noitinha a sexta-feira. Gente que vem anunciar o casamento. Gravidez. Nascimento. Acidentes. Mortes. Festas. Sortes. Teatro. Prece. As nossa brincadeiras. Os meus amigos. As piadas. As perdas.
Que pena! Há uma foto que aumenta minha felicidade. De verdade. É esta com a redação vazia. De Gente. Brinco de adivinhar quem sentava em qual lugar. E tiro a fotografia que não precisa de flash, computador ou de luminosidade. Se eu batizasse esta foto, como minha filha, já teria um nome: saudade!

(Nossa redação sem o que ela tinha de mais precioso: as pessoas)

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