segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Tudo mudou de cor











Nagyla Correa

Ir ao Centro da cidade e andar pelo Calçadão nunca mais foi a mesma coisa. Já se passou um ano, mas aquela procura de personagens para as enquetes de matérias polêmicas ou mesmo o breve intervalo entre uma entrevista e outra que tinha sempre como destino as ruas centrais permanecem intocados em minha memória. Seriam simplesmente lembranças, não fosse o cheiro doce que ainda sinto daquelas tardes, às vezes quentes, às vezes chuvosas – muito mais agradáveis que cansativas –, nos quase 10 anos em que ajudei a escrever a história de Campos nas páginas do Jornal Monitor Campista.
Tudo tinha um sentido muito diferente! Subir a Rua João Pessoa, entrar na Boulevard e retornar à redação pela Lacerda Sobrinho era percorrido com frequência nos dias de trabalho e revelava certa intimidade com a cidade. Afinal, tudo era observado além do que os simples olhos pudessem ver. Não era o meu olhar que pairava sobre as lojas, os produtos e as pessoas conversando nas bancas, nos cafés, nas calçadas... Era o dele, o do querido Monitor. Quanto orgulho caminhava junto, nossa!
Agora, voltei a enxergar apenas com meus olhos. Já não posso mais contar com a visão do ‘amigão’ de antes. Isso é muito doloroso! A morte do jornal foi como perder uma pessoa muito querida e que, por mais que se juntem esforços, a vida nunca mais volta a ter a mesma cor, o mesmo brilho. Por outro lado, a alma do Monitor parece impregnada em meu ser. Deve ser por isso que em todas as vezes que passo pelo Largo da Imprensa e adjacências sinto pulsar em meu peito ainda de forma bastante latente o ritmo frenético do Jornal Monitor Campista. É como se tivesse que voltar daqui a pouco para a redação.
Só que nesse momento sou bruscamente acordada de meu devaneio pela dura realidade. Aquele endereço cativo na Rua João Pessoa, eternizado nas minhas lembranças, agora, figura com outra fachada, com outra vida. Nele só restou mesmo a alma. A alma de quem lutou e resistiu a muitas tempestades, mas não a todas. Quer saber? Não vou mais descer por aqui pelo lado da Catedral. Melhor mesmo é mudar de trajeto pra ver se ameniza essa infinita saudade. Sem dúvidas, é mais fácil do que esperar que tudo volte a ser como antes.

(Na foto, eu e Juarez Fernandes esperando Seu Maia para mais uma saída no carro de reportagem)

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