segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Ainda não passou...















Cilênio Tavares

Um ano. E a ferida ainda não cicatrizou. Se é que isso vai acontecer um dia. Longe de mim abrir, neste texto que está sendo produzido com muito esforço — doloroso mesmo — espaço para citações carregadas de pieguices ou coisas afins. Também não me peçam para ficar alheio, fingindo que houve superação. Não houve. E nem para ficar calado. Não dá. Ainda sentimos aquele gostinho amargo na garganta. Aquela sensação
de que tudo poderia ter sido diferente. Que foi apenas um sonho ruim que um dia vai passar. Lembranças. Hoje, por opção, só lembranças boas de um convívio que, mesmo profissional, beirava o afeto de uma família, com todos os ingredientes que permitem o aprendizado diário um com o outro.
Com momentos de satisfação quando emplacávamos uma boa edição e até rusgas, mínimas sempre que possível, que não duravam mais que cinco minutos até a convivência harmônica retomar seu espaço. E mesmo para o padrão do jornalismo dito moderno, sem muito espaço para relacionamentos fraternos em tempos de internet, a boa convivência no ambiente de trabalho era a regra, não a exceção. E isso fazia a diferença na hora de discutir pautas, produzir textos, moldar edições diárias de um jornal que conseguiu superar obstáculos por 175 anos.
Que viu a Vila de São Salvador ser elevada à condição de cidade, relatou a primeira e a segunda Guerra Mundial, revoluções, golpes de estado, suicídio de um presidente, uma ditadura que cerceou o direito à liberdade de expressão em território brasileiro, a retomada da democracia em meados dos anos de 1980. Até tombar, com uma
surpreendente e inexplicável indiferença da sociedade que usufruiu dele por todo esse tempo, em 15 de novembro de 2009.
Pelo menos 12 anos da minha vida profissional foram vividos dentro da redação do Monitor Campista. Nesse curto período, tivemos perdas de alguns companheiros que hoje também são só lembranças, doces lembranças. Difícil falar do Monitor sem lembrar Paula Virgínia Oliveira — colunista social para os leitores e simplesmente Paulinha, para nós. E como digitar um texto sem se reportar às “broncas” que vez por outra nos dava o revisor Guimarães — “Seu Guima” —, ou lembrar das mesmas piadas contadas inúmeras vezes pelo diretor de Redação Eduardo Augusto de Souza, o “Dudu”. Os três já não estão mais entre a gente, mas fizeram uma enorme diferença, pelo menos na minha vida. Não passaram em branco, assim como não passou o jornal que era fonte rica da história de uma cidade que insiste em jogar a história para debaixo do tapete, sempre que pode. Aos ex-companheiros de trabalho, a certeza de que vocês também continuam fazendo parte da minha vida. De um jeito ou de outro, me fizeram ser uma pessoa diferente do que eu era quando começamos a conviver. E à proporção que o tempo vai passando nas nossas vidas, vemos que o crescimento se dá não com o que deixamos de fazer, porque que o tempo não volta, mas com o que podemos construir no agora. E o agora diz que temos que continuar com a cabeça erguida, principalmente por ter a certeza de que, uma vez naquela redação, demos o melhor de nós.
E hoje, 15 de novembro de 2010, a dura e amarga sensação de indiferença que cercou o encerramento das atividades do Monitor Campista — salvo as exceções já devidamente conhecidas pela população graças ao movimento em torno da tentativa do salvar o jornal — ainda não passou.

(Na foto, eu, Míriam, Carla e José Amaro, em uma de nossas festas de fim de ano)

Nenhum comentário: